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Notícias da Arquidiocese de Braga

Vila do Conde / Póvoa de Varzim acolheu o IV Domingo SALICUS

Realizou-se, no dia 6 de março de 2022, na igreja paroquial de Caxinas, em Vila do Conde / Póvoa de Varzim, o IV Domingo SALICUS: iniciativa organizada pelo Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga, pelo Departamento de Música Sacra do Arciprestado de Vila do Conde / Póvoa de Varzim e pela Revista SALICUS.

No passado domingo, dia 6 de Março de 2022, realizou-se na igreja paroquial de Caxinas, em Vila do Conde, o IV Domingo SALICUS: iniciativa organizada pelo Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga, pelo Departamento de Música Sacra do Arciprestado de Vila do Conde / Póvoa de Varzim e pela Revista SALICUS. Foi uma tarde de reflexão e música.

O encontro iniciou com umas palavras introdutórias de acolhimento do Pe. Manuel Casado Neiva, Arcipreste de Vila do Conde / Póvoa de Varzim, a todos os presentes e de uma forma especial, ao Arcebispo Primaz D. José Cordeiro que também marcou presença no evento. O Arcipreste congratulou-se pela iniciativa e, dirigindo-se aos presentes, partilhou: «a música ajuda a viver a liturgia. A música tem de ter espiritualidade. Ela faz parte integrante da liturgia». Ao concluir, o Arcipreste aproveitou o momento para apresentar a Escola de Ministérios Arciprestal que está já a funcionar no Arciprestado, referindo que irão trabalhar também propor formação em música litúrgica. De seguida, o Pe. Juvenal Dinis, Presidente do Departamento Arquidiocesano de Música Sacra, saudou todos os presentes, agradecendo o acolhimento no Arciprestado de Vila do Conde / Póvoa de Varzim da iniciativa do IV Domingo SALICUS e pediu ao sr. D. José Cordeiro, Arcebispo de Braga, que dirigisse uma pequena mensagem a todos os participantes.

D. José Cordeiro expressou a sua alegria por este encontro de formação, destacando que «a celebração também é formação» e que «formação deveria ser um refrão» a fazer parte do quotidiano de cada um. Dirigindo-se aos coralistas presentes, citando palavras de Santo Agostinho, disse: «cantar é próprio de quem ama». E continuou: «o grupo coral não canta na missa, mas canta a missa. A música é parte integrante da celebração». A propósito do novo Missal, o prelado comunicou que será apresentado nos próximos dias aos senhores bispos e que este também deve ser tido em conta na preparação da liturgia, já que é o primeiro livro de canto da missa.

Os trabalhos prosseguiram com o Pe. Daniel Neves, membro do Departamento Arquidiocesano de Música Sacra, a apresentar o primeiro palestrante da tarde, o Prof. João Duque, Presidente do Centro Regional da Universidade Católica em Braga que desenvolveu uma conferência sobre a «Fraternidade coral».

O Prof. João Duque começou a sua intervenção apontando duas razões para a escolha do tema: a Encíclica “Fratelli Tutti” que o Papa Francisco escreveu dedicada à Fraternidade e o atual momento difícil que estamos a viver. «É necessário trazer a fraternidade para o quotidiano», salientou o conferencista. Saltando para a música afirmou: «A música une os seres humanos. A linguagem musical não tem fronteiras». O palestrante continuou: «a música contemporânea pode não parecer assim tão harmoniosa a quem a ouve, pelas suas características próprias, mais dissonante. Na vida do nosso quotidiano temos momentos alegres, mas também difíceis e dramáticos. Na vida de um coro acontece a mesma coisa. A vida é feita de momentos alegres, mas também de momentos mais escuros. Fraternidade, quer dizer, somos irmãos, equivale a dizer, todos os humanos são irmãos. Qual a nossa origem comum? A nível do sangue – genética, ter o mesmo pai; a nível étnico – aqueles que pertencem à mesma etnia; a nível territorial – aqueles que habitam o mesmo território, ou a nível de grupos – aqueles que participam no mesmo grupo, uma associação, …». Vincou João Duque: «A universalidade da fraternidade implica a superação da ideia de “bolha”. A fraternidade exige a superação de um medo – medo dos outros diferentes. Superado o medo, estamos preparados para acolher o irmão. Às vezes é mais fácil a fraternidade com os de fora do que com os de casa (da própria família), ainda se tem medo do lugar que o irmão pode ocupar. Os conflitos tanto são internos como externos. A fraternidade universal requer que cada um de nós assuma a sua responsabilidade por cada um dos outros independente de quem for».

Terminada a 1ª parte da exposição, sobre a «fraternidade coral», fomos presenteados com um breve momento musical, pelas vozes do Grupo Coral da Junqueira – com a partilha de alguns cânticos: “Obrigado” de François Nicolas da Revista SALICUS 3, e “Pelo Pão do teu amor” de Henrique Faria.

De seguida, o Prof. João Duque, continuou a sua exposição sobre a “fraternidade coral” centrando-se mais na finalidade da música coral. “Quando cantamos sentimos a beleza da harmonia seja ela mais dissonante ou consonante. Devemos desejar momentos de harmonia. Contudo, também passamos por momentos de desarmonia. Necessitamos de superar os momentos de desarmonia.

Um coro existe para cantar. Realiza a sua missão quando canta e ainda melhor quando canta bem.

O conferencista alertou que «há mais gente para além desse coro que é preciso conhecer. Um coro não deve viver para si mesmo, está ao serviço dos outros. O coro precisa de um público que o escute».  Falando do coro na liturgia afirmou: «o coro na liturgia ganha características próprias. O seu serviço é a assembleia litúrgica, precisa da assembleia litúrgica e está ao serviço da liturgia. O coro não canta apenas pelo prazer de cantar, canta para o serviço a uma assembleia eclesial». O palestrante alertou os presentes para algumas dinâmicas que é preciso trabalhar e fomentar, por exemplo, o acolhimento de outras pessoas no grupo, os grupos não devem ser fechados. «Os grupos devem ser mais acolhedores ao exterior de si. No horizonte da comunidade paroquial está toda a Igreja presente. Não cantam só para os amigos». É preciso «superar os medos», salientou: «medo que alguém ocupe o meu lugar, medo que alguém seja o solista em meu lugar…, isto, em muitos âmbitos: na família, no trabalho, mas também nos grupos corais. E concluiu: precisamos todos uns dos outros nas nossas diferenças. Uma pessoa não faz música coral sozinha, precisa dos outros. O coro deverá ser sempre oportunidade para construir a fraternidade».

Terminada esta exposição, sobre «fraternidade coral», fomos presenteados com um breve momento musical, novamente pelas vozes do Grupo Coral da Junqueira – com a partilha dos cânticos: “No meio da minha vida” de Fernandes da Silva, e “Somos testemunhas” de Joaquim Santos.

Após um breve intervalo, o Pe. Daniel Neves apresentou o segundo palestrante, o Cón. Hermenegildo Faria, também membro do Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga e responsável da Escola Arquidiocesana de Música Sacra de Braga, que refletiu sobre: “Ferramentas de auxílio à Música Litúrgica”.

Introduzindo o tema, o Cón. Hermenegildo sublinhou o seguinte: «nós não cantamos durante a missa, cantamos a missa». Depois continuou: «O livro necessário para a missa é o Missal. Os ritos da missa são gestos e palavras. O Missal contem os ritos da missa. Antes do Concílio Vaticano II, a missa era em latim, as pessoas diziam as suas orações enquanto o sacerdote celebrava a missa de costas para o povo. Estava tudo no Missal quer as leituras, quer os ritos da missa. Antigamente só havia duas leituras, hoje há uma variedade muito maior de leituras. Há duas mesas: a mesa da Palavra (o ambão) e a mesa do Pão (o altar). Por exemplo, a oração dos fiéis que antigamente só se fazia na Sexta-feira Santa, hoje é feita todos os domingos e dias da semana».

Explicitando o que é «cantar a missa», afirmou: «cantar a missa é pegar nos textos da missa e cantá-los. O livro de cânticos da missa é o Missal. Na missa há momentos em que se canta o próprio rito e momentos em que o canto acompanha o rito. Por exemplo, quando cantamos o Santo, cantamos o próprio rito, cantamos o texto que está no Missal. Os cânticos de entrada, ofertório, comunhão, o aleluia e cordeiro de Deus – acompanham o rito. A música deverá sempre respeitar o carácter do texto».

Concluindo o Cón. Hermenegildo, destacou «o Missal é o livro de todos e não um qualquer cancioneiro x ou y. O instrumento de ajuda principal à preparação da liturgia da missa deve ser o Missal. Evitar o e espírito tribalista. Este espírito tribalista matou os coros e os grupos de jovens, ou seja, mataram-se uns aos outros. Trabalhe-se em fraternidade, em respeito, em espírito de veneração». 

Terminada esta exposição, fomos presenteados com um breve momento musical, pelas vozes do Grupo Coral de Rates – com a partilha dos cânticos: “Em Vós, Senhor, está a fonte da vida” de Az. Oliveira; “Bendito sejas, Senhor” de A. Cartageno e «Quando Eu for levantado da terra».

Por fim, o Presidente do Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga deixou uma palavra de gratidão aos palestrantes da tarde, aos grupos corais que prepararam os momentos musicais e ao Departamento de Música Sacra do Arciprestado de Vila do Conde / Póvoa de Varzim. Gratidão que estendeu à paróquia de Caxinas e ao seu pároco, Pe. Daniel de Sousa Neves, e a todos os presentes.

Que este encontro ajude a melhorar a qualidade musical das celebrações litúrgicas.

Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga

Ver artigo publicado no Jornal “Diário do Minho”, 09-03-2022