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Notícias da Arquidiocese de Braga

Barcelos acolheu o III Domingo SALICUS

Realizou-se, no dia 23 de fevereiro de 2020, na igreja paroquial de S. Martinho de Manhente, em Barcelos, o III Domingo SALICUS: iniciativa organizada pelo Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga, pelo Departamento de Música Sacra do Arciprestado de Barcelos e pela Revista SALICUS.

Realizou-se, no dia 23 de fevereiro de 2020, na igreja paroquial de S. Martinho de Manhente, em Barcelos, o III Domingo SALICUS: iniciativa organizada pelo Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga, pelo Departamento de Música Sacra do Arciprestado de Barcelos e pela Revista SALICUS. Foi uma tarde memorável.

O Presidente do Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga, Pe. Juvenal Dinis, iniciou a sessão com uma palavra de saudação a todos os presentes. Após o afável acolhimento, apresentou as linhas da missão do Departamento Arquidiocesano de Música Sacra, na Diocese de Braga. Este Departamento tem como missão: «Delinear estratégias e promover iniciativas como esta, no sentido de, ajudar a proporcionar às celebrações litúrgicas a qualidade e dignidade que as mesmas exigem, preparando os intervenientes na liturgia: organistas, salmistas, cantores e diretores dos coros»; «acompanhar quanto se pretende executar em concertos ou celebrações especiais» e «estimular o uso dos órgãos de tubos, onde existam, promovendo o seu uso habitual». E, ainda, publicar regularmente a Revista SALICUS e a respetiva Separata.

Com este Domingo SALICUS pretendeu-se dar continuidade aos desafios lançados pelo Papa Francisco, no último Congresso sobre a Música Sacra, realizado em Roma: A renovação da música sacra requer saber «contemplar, adorar e acolher» a ação divina, «percecionar-lhe o sentido, graças, em particular, ao silêncio religioso e à musicalidade da linguagem» com que Deus fala. Além disso, «a música sacra e o canto litúrgico têm a tarefa de nos dar o sentido da glória de Deus, da sua beleza, da sua santidade que nos envolve como uma nuvem luminosa» [cf. www.snpcultura.org].

Os trabalhos prosseguiram com o Pe. Daniel Neves, membro do Departamento Arquidiocesano de Música Sacra, a apresentar o primeiro palestrante da tarde, o Prof. João Duque, Presidente do Centro Regional da Universidade Católica em Braga, que desenvolveu uma conferência sobre «O papel de um coro na vida eclesial».

O Prof. João Duque começou a sua intervenção por agradecer o convite e louvou esta iniciativa Domingo SALICUS, já na sua terceira edição, e esclareceu os presentes que «a Revista SALICUS vem dar continuidade à Nova Revista de Música Sacra, continuando a oferecer composições originais e composições de música para a liturgia com qualidade musical». Esta iniciativa pretende «dar continuidade ao movimento coral introduzido pelo Pe. Manuel Faria na Arquidiocese de Braga e que levou à criação de coros paroquiais, a maior parte a 4 vozes mistas, por toda a arquidiocese, cujo o trabalho nós nos encontramos aqui hoje». Uma outra personalidade evocada pelo conferencista, ligada a Barcelos e ao coro paroquial de Viatodos, foi o Pe. Fernandes da Silva «talento musical da natureza que nos levou imensos cânticos que são cantados ainda atualmente e fez um excelente trabalho com o coro paroquial, que fez com atingisse uma qualidade elevada da execução da tradição da música sacra».

Refletindo o tema proposto, o conferencista afirmou que «um coro paroquial é uma forma de fazer experiência, de fazer vida eclesial. Um coro existe para cantar pelo gosto de cantar, uns por iniciativa própria, outros porque foram convidados ou arrastados por outros». E mais: «estamos num coro para cantar bem, para tirarmos proveito disso. Os ensaios são dolorosos, mas ao fim chega-se à execução de uma obra, o resultado é bom, sentimo-nos cheios, consolados com o efeito que ouvimos». Abordando a missão de um coro na vida eclesial, o Prof. João Duque salientou que «o coro trabalha afincadamente para prestar um serviço gratuito à comunidade. Um coro litúrgico presta um serviço na liturgia e à liturgia. Na liturgia cantamos antes de tudo para Deus. O serviço que fazemos a Deus não deve desligar-nos da comunidade que servimos. Deus ficará tanto mais contente connosco, quanto mais ajudarmos a comunidade a cantar bem». Falando aos diretores corais, organistas, salmistas, coralistas e sacerdotes presentes, o conferencista deixou bem vincada a missão do coro e as suas exigências: «quando cantamos mal, porque podíamos cantar bem, não estamos a prestar um serviço à comunidade». Com uma «responsabilidade acrescida», o orador sublinhou o papel do organista e do diretor do coro: «Para prestar um serviço de qualidade é preciso ensaiar. O ensaio faz parte do nosso serviço à igreja. É assim que estamos a praticar o nosso cristianismo como comunidade cristã. O coro é uma comunidade de pessoas, com muitos problemas e que tem exigências: 1) o compromisso de participar num ensaio semanal, semana a semana. O cantar com qualidade, ou seja, sou obrigado a cantar o melhor possível. 2) A não exibição pessoal. O coro não é um conjunto de solistas. Num coro nenhuma voz pode sobressair. Problema exigente para os bons cantores. Desaparecer para si em função do todo. É um exercício de humildade. Há tendência para a falta de paciência, juízos permanentes. O coro é uma grande oportunidade de um grande respeito aos outros. Saber valorizar o que há de positivo no outro e corrigir os defeitos». Contudo, «a falta do compromisso semanal e a falta de qualidade são as maiores dificuldades».

Concluindo a sua partilha, o Prof. João Duque asseverou: «É necessário investir em pessoas capazes musicalmente e com maturidade também. Esta é a nossa tarefa. Um coralista exercita a sua santidade dando o melhor que puder de si».

Terminada esta exposição, sobre «o papel de um coro na vida eclesial», fomos presenteados com um breve momento musical, pelas vozes do Grupo Coral de S. Martinho de Manhente – com a partilha dos cânticos: “Quero bendizer-vos”, de António Cartageno, e “Maria sois tão bela como aurora” — e do Grupo Coral de Carreiras S. Miguel – com a partilha dos cânticos: “Bartolomeu do Mártires”, de José Barbosa, e “Eis-me aqui” de Marco Frisina.

No início da segunda parte foi ainda cantado por todos o cântico: “Converteste em júbilo o meu pranto”, de Fernando Lapa, da Revista SALICUS 1, acompanhado ao órgão pelo organista Daniel Ribeiro, professor da classe de órgão na Escola Arquidiocesana de Música Sacra de Braga. Em seguida, o Pe. Daniel Neves apresentou o segundo palestrante, o Cón. Hermenegildo Faria, também membro do Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga, e responsável da Escola Arquidiocesana de Música Sacra de Braga, que refletiu sobre “O silêncio”.

Introduzindo o tema, o Cón. Hermenegildo referiu o seguinte: «num tempo em que nós achamos que a música é para preencher o silêncio, necessitamos de refletir sobre o silêncio». Parece que vivemos num mundo onde há uma certa «fobia ao silêncio», temos que sentir algum barulho, o vazio parece que nos angustia. Citando Mahler, o palestrante afirmou: «”a música existe para decorar o silêncio”, não para o suprimir». Citando o trompetista Miles Davis, referiu: «a verdadeira música é o silêncio». «O coro não só ajuda a assembleia a cantar, mas é um pedagogo do silêncio da assembleia. O coro deve ser um pedagogo da aprendizagem do silêncio da assembleia». 

Em seguida, o palestrante lembrou o número 45 da Instrução Geral do Missal Romano: «Também se deve guardar, nos momentos próprios, o silêncio sagrado, como parte da celebração. A natureza deste silêncio depende do momento em que ele é observado no decurso da celebração. Assim, no ato penitencial e a seguir ao convite à oração, o silêncio destina-se ao recolhimento interior; a seguir às leituras ou à homilia, é para uma breve meditação sobre o que se ouviu; depois da Comunhão, favorece a oração interior de louvor e ação de graças.

Antes da própria celebração é louvável observar o silêncio na igreja, na sacristia e nos lugares que lhes ficam mais próximos, para que todos se preparem para celebrar devota e dignamente os ritos sagrados».

Concluindo a sua intervenção, o Cón. Hermenegildo desafiou  os presentes a «não terem medo do silêncio e que não tem que se cantar sempre tudo». 

Terminada esta exposição, fomos presenteados com um breve momento musical, pelas vozes do Grupo Coral de Viatodos – com a partilha dos cânticos: «Com lâmpadas acesas», de Hermenegildo Faria / François Nicolas, da revista SALICUS 4; «Confesso o meu pecado», de Joaquim Santos, NRMS 61 e «Há tanto tempo», de Fernandes da Silva — e do Grupo Coral de São Mateus de Grimancelos – com a partilha dos cânticos: «Eis-me aqui», de Marco Frisina; «Avé Maria» de Artur Oliveira; «Pelos prados e campinas», de Fr. Fabretti, e o «Hino a São Bartolomeu dos Mártires», de Jorge Alves Barbosa, da revista SALICUS 7.

Por fim, o Presidente do Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga deixou uma palavra de gratidão: aos palestrantes da tarde, aos grupos corais que prepararam os momentos musicais e ao Departamento de Música Sacra do Arciprestado de Barcelos, na pessoa do Pe. Manuel Jorge Gomes. Gratidão que estendeu à paróquia de São Martinho de Manhente e ao seu pároco, Pe. Manuel Fonseca, e a todos os presentes, bem como ao organista Daniel Ribeiro. 

Que este encontro ajude a melhorar a qualidade das celebrações litúrgicas.

 

Departamento Arquidiocesano de Música Sacra de Braga

Ver artigo publicado no Jornal “Diário do Minho”, 06-03-2020

Igreja Paroquial de Manhente, Barcelos

© Rui Machado